Tudo se iniciou na quarta-feira, 19, quando as polícias civil e militar receberam denúncia anônima de que uma mulher de 39 anos era torturada por seu então companheiro, de 31 anos, e mantida em cárcere privado na Vila Cintra, em Pirenópolis.
Enquanto os policiais verificavam a procedência daquelas informações, a Polícia Civil do Distrito Federal encaminhou a mesma denúncia para o e-mail da Delegacia de Polícia de Pirenópolis, porém, com fotos da vítima lesionada e o endereço de onde o crime ocorria. Então, aconteceu que os policiais tentaram libertar a vítima, mas o autor desconfiou disso antes e fugiu, levando-a com ele.
O Delegado de Polícia Ariel Martins então solicitou peritos do Núcleo Regional da Polícia Técnico-Científica de Anápolis no local. Ao que tudo indica, havia substâncias espalhadas na casa do tipo sangue e droga (possivelmente cocaína).
“Ainda na quarta-feira por volta de 20 horas, mesmo encerrado o expediente da delegacia, recebemos uma ligação da própria vítima e inclusive eu quem atendi. Ela dizia que tudo estava bem e ainda questionava porque a polícia havia entrado em sua casa. Eu não a conhecia e não sabia se aquela voz era dela mesma, mas se caso fosse, se não teria sido obrigada a tanto. Enfim, eu apenas respondi que se tudo tivesse bem, que ela comparecesse então na delegacia para esclarecermos a situação e que nada mais seria tratado por telefone”, disse o Delegado.
Na quinta-feira, o Delegado então passou a monitorar os passos do autor através de diversas técnicas investigativas e descobriu que o autor e vítima se encontravam nas redondezas da Vila Jaiara em Anápolis, porém, sem a localização exata.
Após a Polícia Civil informar a Justiça daquela situação, o Poder Judiciário, com parecer favorável do Ministério Público, decretou rapidamente a prisão preventiva do autor.
Descobriu-se também que o autor possuía um irmão e que ele morava na Jaiara em Anápolis e os investigadores passaram a monitorá-lo também. A empresa Facebook foi contatada e também passou informações relevantes da conta de ambos.
Àquela altura o autor continuava a enviar áudios e fotos da vítima para conhecidos da vítima.
Quando na madrugada de sexta para sábado, obteve-se a confirmação do que já se desconfiava: o autor teria levado a vítima para casa de seu irmão. Então, uma equipe composta pelo Delegado Ariel e o investigador Fabiano (do Grupo de Investigação de Homicídios de Anápolis), em conjunto com uma equipe do Sargento Jarbas e cabo Erick, lotados no 37º Batalhão de Pirenópolis, reunidos em Anápolis, passaram a discutir a situação.
Ao final, o Delegado acabou por acionar o Grupo Tático 3 – Grupo de Elite da Polícia Civil: “Temos que saber reconhecer nossas limitações. Quando o assunto é investigação, tenho muita confiança em nosso trabalho. Havíamos nos empenhado bastante até àquela altura e não queria colocar tudo a perder com alguma atitude impensada. Então acionei nosso grupo de elite, que tem sua base em Goiânia, para nos auxiliar a adentrar ao local sem expor ninguém a perigo, gerar crises e algo sair errado”, afirmou o Delegado.
Em menos de uma hora do Grupo Tático 3 já se encontrava em Anápolis, se reuniram na Central de Flagrantes de Anápolis e então se deslocaram até o local. Lá prenderam o autor e resgataram a vítima.
Na Delegacia o irmão do autor e sua companheira disseram que não desconfiaram das agressões, pois trabalham muito e não ficavam muito tempo na casa. O delegado decidiu colher o depoimento deles e liberá-los. Pelo que foi apurado, o autor pediu ao irmão para que se ficasse lá uns dias. Ele ligava o som e mantinha a vítima dentro do quarto.
Os Bombeiros foram acionados e encaminharam a vítima para o Hospital e o Instituto Médico Legal de Anápolis. Ao que tudo indica ela sofreu uma perfuração nas nádegas aparentemente ocasionada por uma faca (ou objeto semelhante) e apresentava diversos hematomas que teriam sido provocados por golpes com a lateral da lâmina de um facão. Posteriormente ela foi liberada para ir para sua casa.
Em um dos áudios supostamente enviados pelo autor através do aplicativo WhatsApp, ele dizia que: “Ela já tomou banho… tá quietinha… só quebrei um facão nas costas dela… pus pimenta [nas partes íntimas dela] e tudo. Dei uma sossegada boa nela, mas assim já tá de boa, tomou banho, nós já tamos conversando já, tá de boa”.
Baseado inclusive nas declarações da vítima, o autor resolveu agredi-la para que ela confessasse uma suposta traição. Em razão das agressões que sofria, acabou confessando algo que não fez. Foi por conta disso que ele gravou áudios e tirou fotos das lesões da vítima, encaminhando esse conteúdo para conhecidos da vítima em Brasília.
Segundo a vítima, os planos do autor eram de comparecer na segunda-feira (dia 24) com ela na delegacia e dizer que estava tudo bem, a fim de evitar qualquer consequência da Lei Penal. A vítima também afirmou que teve oportunidade e pensou em matá-lo, mas com receio de eventuais consequências disso, desistiu.
A vítima já havia registrado em 2016 uma ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal, por conta de ameaça e agressões leves do autor, ocorridas em Pirenópolis. Contudo, ele teria feito a vítima desistir de prosseguir com aquela denúncia.
A partir de agora a Polícia Civil tem o prazo de 10 executar pormenores restantes, finalizar as peças do Inquérito Policial e enviá-lo a Justiça, que deverá analisar o caso conforme a legislação determina.
Fonte: Polícia Civil