A polêmica declaração do presidente Lula, que suscitou o conflito internacional, foi dada durante participação na 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana | Foto: Câmara Municipal de GoiâniaNa esteira da crise diplomática entre Brasil e Israel, iniciada após fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que associou os ataques israelenses à Faixa de Gaza ao Holocausto perpetrado por Hitler, um dos principais nomes do PSDB goiano, a vereadora Aava Santiago protagonizou um momento de acalorada discussão durante sessão plenária da Câmara Municipal de Goiânia, na quarta-feira (21), ao dizer que a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas não deveria pautar o trabalho dos parlamentares.
O corte do vídeo que mostra o momento em que a vereadora pede ordem na Casa de Leis viralizou nas redes sociais. Só no X (antigo Twitter), o vídeo repostado pelo jornalista William de Lucca já tinha alcançado mais de 1 milhão de visualizações até o fechamento da reportagem.
A comparação de Lula inflamou os ânimos dos vereadores goianienses. O vereador Ronilson Reis (Solidariedade) disse que “não cabe ao chefe de estado” interferir nas questões relacionadas a Israel. Ele também destacou que Lula foi até o Egito para “declarar brutalmente contra a nossa democracia”. Reis alegou que as ações de Israel visavam se defender das agressões do grupo terrorista Hamas, que invadiu o país, causando mortes de vítimas inocentes.
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“Fazer uma comparação de que o que Israel está fazendo hoje, se defendendo das agressões do Hamas, um grupo terrorista, que invadiu o estado de Israel, matou várias famílias, crianças, mulheres, sequestrou e estuprou, foi o que Hitler fez lá atrás com os judeus, matando mais de 6 milhões de judeus, totalmente drástico diplomaticamente”, disse.
Aava argumentou, em resposta à fala do colega, que a discussão da crise seria uma “perda de prioridade”. “Presidente, eu só quero trazer uma reflexão aqui, porque há colegas dizendo que não cabe a um chefe de estado dar opinião sobre um conflito global, mas cabe ao vereador, né? Ao vereador de Goiânia! Não cabe ao presidente do Brasil falar sobre conflito internacional, mas é ao vereador de Goiânia que cabe pautar o conflito no Oriente Médio”, declarou.
“Presidente, o senhor precisa reassumir a métrica da importância do que se discute neste parlamento. Porque se o presidente da República não pode falar de conflito internacional e o vereador de Goiânia pode ocupar 1 hora da sessão, com a cidade cheia de problema, falando disso, para fazer vídeo para acenar para sua claque, aí a gente perde referência do que é prioridade, não é?”, ironizou a vereadora.
Ainda durante a sessão, Reis disse ter apresentado uma moção de repúdio — solicitando, posteriormente, sua aprovação — à declaração de Lula, argumentando que ela foi considerada “totalmente infeliz” por uma parte significativa da sociedade.
A polêmica declaração do presidente Lula, que suscitou o conflito internacional, foi dada durante participação na 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia, na semana passada. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler decidiu matar os judeus”, afirmou Lula.
Em seguida, Israel acusou o presidente de banalizar o Holocausto e ofender o povo judeu. Lula foi declarado como “persona non grata” em Israel. Além disso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que os comentários do petista são “vergonhosos e graves”.
A vereadora Aava Santiago, que é presidente do PSDB em Goiânia, é hoje a principal representante da ala progressista entre os tucanos e destoa da posição que a legenda tem adotado desde que Marconi Perillo assumiu a presidência nacional do partido. O ex-governador tem afirmado que os tucanos devem manter postura oposicionista ao governo federal.
Aava declarou apoio ao então candidato Lula no segundo turno das eleições de 2022 e fez parte da equipe de transição do petista, após a vitória nas urnas. Na época, ficou responsável pelo desenvolvimento de políticas para mulheres, uma de suas principais bandeiras enquanto parlamentar.