Na madrugada de 18 de novembro de 2023, Naçoitan invadiu a casa de sua ex-mulher, disparando 15 tiros contra ela e seu atual namorado | Foto: ReproduçãoYago Sales e Isadora Miranda
Segunda-feira, dia 19 de fevereiro. Por telefone, o prefeito de Iporá, Naçoitan Leite (sem partido), pareceu eufórico quando perguntado se sentiu mais felicidade com a primeira carreata da vitória — ao ser eleito prefeito em 2016 — ou ao ser solto no último sábado, 17. Para ele, deixar a prisão não tem comparativo.
Na madrugada de 18 de novembro de 2023, Naçoitan invadiu a casa de sua ex-mulher, disparando 15 tiros contra ela e seu atual namorado. Por isso, após passar quatro dias foragido, foi preso, no dia 23 de novembro. Além disso, ele responde, também, a acusações de porte ilegal de arma de fogo e fraude processual.
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Confira a entrevistaJornal O hoje: Depois de reassumir o cargo de prefeito um dia após deixar a prisão, qual foi o primeiro despacho do senhor?
Naçoitan Leite: O primeiro despacho foi nomear os secretários que já eram nossos e foram demitidos. Já retornaram aos seus respectivos cargos.
Então, o quadro da sua gestão de hoje é o mesmo do ano passado, antes de o senhor preso?
Sim. O mesmo. Tudo voltou ao normal.
Como o senhor encontrou a cidade?
Olha, nós temos que trabalhar. Na parte rural do município, não é possível nem escoar a produção, visto que as estradas estão em más condições. Além disso, foram contabilizados cinco óbitos de dengue. Então, precisamos limpar a cidade, roçar lotes. Temos que trabalhar. Humildade e trabalho: esse é o nosso lema.
O senhor ficou três meses afastado da prefeitura. Do que o senhor mais sentiu falta em relação às suas atividades como prefeito?
O poder de fazer o bem — arrumar a saúde, a segurança. É disso que a gente sente falta.
O Brasil vive uma série de violência contra a mulher, com feminicídios crescendo de forma alarmante. O senhor, como homem público, tem a responsabilidade de dar exemplo. O que o senhor vai fazer para mudar essa imagem?
Eu fiz uma cirurgia bariátrica e, quem se submete a esse tipo de processo, precisa tomar remédios pelo resto da vida. Nesse caso, eu não poderia ter misturado remédios com bebidas alcoólicas. O que eu tenho a falar é: eu errei. Não estava em mim.
Então, o senhor acredita que aquela foi uma postura proveniente de efeitos adversos de medicamentos. Entretanto, é um alerta para o Brasil — um País onde ocorrem tantos feminicídios e que ocupa a 5ª posição internacional no ranking de assassinatos contra mulheres, feito pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). No que resta da sua gestão, o senhor vai chamar seu staff político para discutir o assunto, visando a conscientização da população para que atitudes como aquela sejam evitadas?
Mesmo antes do acontecimento, sempre fizemos campanhas a favor das mulheres. Agora, vamos intensificar, mais ainda, as campanhas de proteção às mulheres — contra, até mesmo, a minha própria ação. É uma tragédia.
Aliado do governador, prefeito, homem de posses. Você acha que se fosse pobre teria sofrido mais?
A situação prejudicou muita gente — amigos, pessoas que perderam o emprego, família, minhas filhas. Tenho fazenda no Tocantins e, quando minha prisão foi anunciada, o pessoal invadiu minhas terras. Tive prejuízo moral e financeiro. O que tenho a pedir é perdão às pessoas, pedir desculpas pelo fato ocorrido, dizer a todos sobre o meu arrependimento e sobre o compromisso firmado perante a Justiça. Assim, as pessoas não cometerão um erro gravíssimo como o que cometi. Se eu, com influência, fui tratado daquela maneira, imagina um ‘coitado’.
O senhor recebeu uma nova oportunidade na vida, inclusive, ao deixar a cadeia, foi ovacionado. Quem o senhor vai apoiar, neste ano, para prefeito?
Nós ainda não temos um nome, mas vamos ter. A gente deve ter muita responsabilidade. Quando formos fazer alguma coisa, devemos pensar mais nas outras pessoas do que na gente.
O senhor ficou mais feliz quando ganhou a primeira eleição para prefeito ou quando saiu da cadeia?
Quando saí da cadeia. Aquilo lá é o fundo do poço. Antes daquilo, só a morte.
Na sua volta, o senhor foi aplaudido. Entretanto, tenho a certeza de que, de sexta-feira para cá, você descobriu muitos “traidores”. Isso aconteceu?
Aí a gente vê quem é amigo. Eu não tenho inimigos, mas tenho adversários políticos e, alguns deles, inclusive, me receberam na minha volta. Isso é uma coisa que sensibiliza a gente. Dentro do meu coração, não tenho nenhum inimigo.
Mas sempre tem aqueles que estão com a cara fechada, não?
É, tem muita gente. Nós sabemos disso. Mas o coração da gente, só Deus sabe como é.