O Norte de Goiás, que no século 18 foi explorado por bandeirantes em busca do ouro, agora cultiva outro tipo de riqueza. O açafrão-da-terra, também conhecido como cúrcuma, é a cultura predominante na região de Mara Rosa, reconhecida pela produção da planta. O produto ganhou o selo de indicação geográfica (IG), que reconhece a qualidade e tradição de um produto a partir das condições ambientais e do modo de fazer local.
Em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a equipe da TV Brasil visitou a região para conhecer como é feita a produção e a versatilidade da planta, muito usada na culinária e até mesmo no setor têxtil. O programa vai ao ar hoje (20), às 22h.
Cerca de um quarto do açafrão brasileiro é produzido na região de Mara Rosa e, em 2016, foi certificado como IG. “Acho que é a terra boa, a planta se adaptou ao clima e Deus abençoou também o lugar. Porque o açafrão nasce em todo lugar, mas não produz tanto quanto nesta região. É um mistério de Deus”, diz Antônio do Nascimento, produtor de açafrão certificado.
Boa parte da colheita é feita por pequenos produtores, de forma manual, em tradição que passa de geração em geração. “Eu gosto muito de trabalhar na terra, porque era um serviço que minha mãe fazia. Me lembra muito e me sinto próxima dela, que morreu de câncer. É uma forma que tenho de homenageá-la, fazendo o que ela mais gostava que era trabalhar com açafrão”, conta Sebastiana Fortunato, trabalhadora rural.
“Na maior parte das vezes, são pequenos produtores que estão por trás de uma indicação geográfica. Muitas vezes, eles não têm condições de competir em volume de produção com grandes regiões ou produtores. Então, uma forma de agregarem valor ao produto, proporcionar desenvolvimento aos pequenos negócios e aos demais instalados na região é por meio da diferenciação da indicação geográfica”, explica Hulda Giesbrecht , analista de inovação do Sebrae Nacional. A entidade apoia os produtores para que obtenham a certificação de IG. Ao todo, o Brasil tem 92 indicações geográficas reconhecidas atualmente.
Para garantir a qualidade, a produção de açafrão certificado passa por controle de qualidade, etapa por etapa. “Todo açafrão com selo passa por um processo no laboratório. Ele é um produto de maior qualidade porque não tem uso de herbicida”, diz Weslley Oliveira, engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).
Da mesa ao guarda-roupa
O uso do açafrão como tempero já é bastante difundido e, em Mara Rosa, há um festival culinário específico com receitas exclusivas que levam o ingrediente. A equipe da TV Brasil conheceu também uma chefe de cozinha, em São Paulo, que usa o tempero para colorir massas artesanais. “Fiz uma coleção que eu chamo de massas aos sabores e perfumes do Brasil, para que a gente possa usufruir e divulgar as nossas preciosidades”, diz Ana Soares, destacando o aroma especial do açafrão.
O amarelo característico do produto também é usado na fabricação de corantes. A designer Maibe Maroccolo desenvolveu o projeto Mattricaria para pesquisar o potencial das plantas brasileiras no desenvolvimento de tintas ou na aplicação no segmento de tinturaria têxtil. Ela mostra como o açafrão imprime um amarelo vivo e único aos tecidos.
Além do prato e dos tecidos, cada vez mais a planta vem sendo reconhecida pelos seus benefícios à saúde. Universidades brasileiras têm pesquisado o potencial anti-inflamatório do açafrão e nutricionistas já recomendam a inclusão da planta na dieta para melhorar também a imunidade.
Informações da Agência Brasil.