Segundo colega de trabalho, a vítima recebia ameaças com frequência. Rádio onde trabalhava foi roubada e incendiada duas vezes desde as eleições de 2016
O radialista Jefferson Pureza, locutor da Rádio Beira Rio FM de Edealina, a 154 quilômetros de Goiânia, foi morto na noite de quarta-feira (17) com três tiros na cabeça. No momento do crime, a vítima descansava após um dia de trabalho na obra da nova sede da rádio, que foi sofreu um incêndio em novembro de 2017, segundo a diretora da emissora Cristina Leandro. Alvejado em sua própria casa, ele era conhecido por fazer cobranças duras a políticos da região em seu programa A Voz do Povo, motivo pelo qual já havia recebido ameaças de morte via mensagens e também presencialmente, na porta da rádio.
Jefferson, que era divorciado estava em casa com a namorada e a sogra no momento do crime. De acordo com a Cristina, o crime ocorreu logo após ele pegar travesseiros para se acomodar no chão da área da residência. “As mulheres estavam dentro de casa, o portão estava fechado. Criminosos abriram o portão e efetuaram disparos a queima roupa”. O radialista, divorciado, deixa cinco filhos.
A Polícia Militar da cidade de Edeia, vizinha de Edealina, foi acionada para atender a ocorrência. De acordo com o sargento Celiomar Freitas, que esteve no local, a corporação recebeu uma ligação anônima. “A pessoa disse ter ouvido tiros na casa da vítima. Quando chegamos, o radialista já estava morto com três disparos na cabeça”.
Segundo Freitas, o delegado Queops Barreto, da Polícia Civil de Edeia assumiu o caso. Até o fechamento desta matéria, a assessoria de imprensa da Polícia Civil não tinha informações sobre o caso. A redação do Mais Goiás tentou contato com o delegado Queops Barreto, que teria assumido a ocorrência, mas as ligações não foram atendidas.
Histórico de violência
As ameaças recebidas por Jefferson tiveram início durante as eleições de 2016. A diretora da rádio, Cristina Leandro, que também foi candidata a prefeita no período, revela que a crítica feita pelo colega ao prefeito Winícius Arantes de Miranda e demais políticos da região era o principal motivo. “Apesar de ser conhecido como linha dura por causa do trabalho na rádio, em casa ele era humilde, meninão, sensitivo, chorava com facilidade”.
Depois do pleito, a rádio que ficava em um lote da prefeitura no bairro Alto Paraíso sofreu um incêndio. Na ocasião, a emissora foi parcialmente destruída, embora tenham sobrado alguns equipamentos. Jefferson e Cristina consideraram a possibilidade de ter se tratado de um incêndio criminoso. “Ele fez muitas críticas pesadas nesse período, o que nos leva a crer que foi um crime com motivação política”. Laudo pericial, entretanto, ainda não foi divulgado.
No fim de outubro, a rádio mudou para o centro da cidade e passou a funcionar novamente em novembro de 2016. Em julho, outro crime que aumentou a desconfiança da equipe ocorreu. O transmissor da rádio, equipamento que permite a transmissão do sinal, foi roubado. “Para continuar as atividades, pegamos um emprestado com o dono da rádio de Edeia, o qual acabamos comprando posteriormente”.
Em novembro de 2017 mais um incêndio acometeu as instalações da rádio. “Dessa vez jogaram combustível. Não sobrou um microfone para contar a história. Foi tão forte que o teto desabou”. Nesse período, as ameaças a Jefferson continuavam. Na época, o caso foi noticiado pelo Mais Goiás.
“Aqui não tem policiamento, nem polícia, nem viatura. Ligamos para a polícia, que disse que iria fazer uma ocorrência online. No entanto, afirmei que esse era o segundo incêndio que afetava a rádio em menos de dois anos e questionei se eles fariam on line mesmo. Quando eu falei isso, eles vieram”.
Depois do incêndio, segundo Cristina, o prefeito compareceu ao local para gravar vídeos ironizando a situação da emissora. Na oportunidade, Jefferson deu um tapa no rosto do Wínícius, que o desafiou a dar mais um. O locutor então desferiu mais um tapa. “Ele apareceu só pra fazer chacota e levou os golpes do Jefferson”.
Assista a um vídeo gravado por Jefferson após o segundo incêndio: