O vice-prefeito Carlos “Unabomber” apresentou gastos de campanha incompatíveis com os dados sugeridos pelo prefeito.
Aliados do vice-prefeito de Goianésia, Carlos “Unabomber” Veículos, dizem, em tom jocoso, que o prefeito Renato de Castro, do PMDB, não é parente de Fidel Castro, mas comporta-se como “ditador”. O Raúl Castro de Renato seria seu pai, Manuel de Castro Arantes, o Fião, secretário-chefe do Casa Civil (nomeia e demite). Na campanha, Fião disse que não ocuparia cargo, para não caracterizar nepotismo. Uma tia do chefe do Executivo, Salete Carrilho, assumiu a Secretaria de Promoção Social. Um vereador, bem-humorado, ironiza: “Totó Jr., o cachorro da família, está ‘desempregado’”. Em seguida, acrescenta: “Por enquanto”.
Os críticos sugerem que, além de não ouvir os aliados e de se comportar de maneira tirânica, Renato de Castro é uma espécie de “rei do contencioso”. No lugar de pacificar os ânimos, como se fosse o líder de todos, o prefeito estaria confrontando vários setores da sociedade — atritando-se, inclusive, com a Igreja Católica, que não quer o Carnaval na Avenida Goiás, no centro, onde ficam as grandes igrejas da cidade — tanto a católica quanto as evangélicas. O padre Cleber Alves de Matos, moderado e estimado pelos moradores do município, pretende acionar judicialmente a prefeitura para retirar a festa de momo deste logradouro. Mesmo com crise, a prefeitura pretende torrar 600 mil reais com a festança. “Rende voto, não é?”, sugere um vereador castrista.
Há um drummond no meio do caminho de Renato de Castro — o vice Carlos Veículos, que, logo no início da nova administração, arrancou e fez denúncias graves contra o prefeito. A prestação de contas do peemedebista assegura que gastou 480 mil reais. Entretanto, Carlos Veículos apresentou documentação ao Ministério Público e à Justiça com registros de um gasto de 550 mil reais — inclusive com promissórias.
Há suspeita de que houve “compra” de voto, o que teria maculado o pleito. Uma ação, que corre na Justiça local, pede a impugnação da candidatura e, portanto, a retirada de Renato de Castro da prefeitura.
Frise-se que Carlos Veículos, embora tenha sido decisivo para a vitória, não foi agraciado com cargos para seus aliados. Disseram-se, durante a campanha, que teria o direito de indicar ao menos três secretários. Entretanto, eleita a chapa, esqueceram-se da promessa. Atribui-se a Fião de Castro a responsabilidade pelo atrito com o vice. O “pé” que chuta é de Fião de Castro, mas o chute é, na verdade, do prefeito.
Embora não seja um político dos mais sofisticados, Carlos Veículos é articulado e hábil, tanto que conseguiu eleger dois vereadores e, deste modo, contribuiu para que Temal Carilho, do PSDB, fosse eleito presidente da Câmara Municipal com nove dos 15 votos. O vice aliou-se ao ex-prefeito Jalles Fontoura e fortaleceu a oposição. Um Legislativo oposicionista pode, se quiser, engessar a gestão do peemedebista.
Implicado com a ciclovia construída por Jalles Fontoura, o prefeito começou a retirá-la. Atento, o promotor de justiça Luciano Miranda impediu a destruição da obra, considerando a ação de Renato de Castro como dano ao patrimônio público, vandalismo.
Os três promotores de Goianésia — Luciano Miranda (que não perde júris), Antônio de Pádua e Márcia Perez — são competentes, atuantes e não se intimidam. Eles atuam nas questões do processo eleitoral, do logotipo da prefeitura e da ciclovia. Renato de Castro, em menos de 15 dias, se tornou um problemão… para si próprio.
Fião Sênior, apontado como uma espécie de prefeito informal, porque está dando as cartas na prefeitura, dizem vereadores, faz e desfaz. No dia 30 de dezembro, frisa um tucano, Jalles Fontoura (PSDB), então prefeito, assinou cheques para pagar fornecedores. “Tudo dentro da legalidade”, sustenta o vereador. Porém, numa demonstração mais de força do que de lisura, Fião sustou os cheques. O dinheiro estava e está na conta da prefeitura. A Câmara Municipal chegou a discutir a possibilidade de uma CPI para averiguar a motivação do “primeiro-ministro”.