Eles afirmam que perderam trabalho após casamento em GO; empresa nega.
Sem dinheiro, eles venderam presentes e cogitam se desfazer de alianças.
Após denunciar que perdeu o emprego por preconceito, o casal Geferson Ribeiro de Souza, de 21 anos, e Daniemerson Brito da Silva, de 27, diz que não consegue uma nova oportunidade de trabalho em Goiânia. Constrangidos, os jovens contam que já venderam celular, móveis e presentes de casamento para pagar as contas. Agora, já cogitam até se desfazer das alianças. Para eles, o motivo do desemprego é terem exposto o preconceito que sofreram.
“A gente ficou bem conhecido. A gente chegou a fazer entrevista de emprego onde a empresa reconheceu a gente e falou: ‘Ah, vocês são os meninos que apareceram na televisão, na internet’. Então, acredito que a gente está sofrendo uma represália por ter mostrado a realidade que a gente viveu, por a gente tentar alertar. Agora, a gente está com um novo problema, o desemprego”, lamentou Daniemerson.
Os jovens trabalhavam como auxiliar de estoque na WB Componentes. Eles foram demitidos em 10 de novembro, dias após oficializarem a união. Na época, a empresa negou que o motivo da demissão estivesse ligado à orientação sexual dos jovens.
Desde que perderam o trabalho, eles contam que buscam uma nova empresa. Segundo os rapazes, eles saem todos os dias às 6h de casa e só retornam no fim do dia em busca de trabalho. Cada um já distribuiu mais de 50 currículos, além de ter passado por várias entrevistas.
Os jovens têm consciência da crise financeira, mas acreditam que este não é um empecilho porque as empresas onde eles se candidataram estão contratando funcionários. Além disso, se “enquadram” no perfil divulgado. Eles buscam oportunidade em qualquer função, de supermercados a indústrias.
“Queremos qualquer vaga de emprego, desde limpar chão, de auxiliar de serviços gerais a auxiliar administrativo, qualquer coisa a gente está acatando porque a gente precisa trabalhar”, diz Geferson.
Sonhos interrompidos
O casal cortou viagens, lanches fora de casa, internet e uma série de gastos, mas ainda tem uma despesa mensal de cerca de R$ 1 mil. Além de ter de vender os pertences, o desemprego também impossibilita o casal de correr atrás de sonhos, como continuar com os estudos. Daniemerson concluiu o ensino médio, mas Geferson parou no 2º ano.
“A gente tem vontade de comprar uma casa, de estudar, de concluir uma faculdade até mesmo para a gente ter uma profissão. O Geferson quer ser veterinário e eu, fisioterapeuta”, revela Daniemerson.
Processos
O casal entrou na Justiça com uma ação de reparação pelos danos morais sofridos, pois relatam que tinham um rotina de humilhação e constrangimento. Eles tiveram uma audiência em fevereiro, mas a empresa não aceitou firmar um acordo.
Daniemerson e Geferson afirmam que só propuseram a ação porque a situação estava crítica e reforçam que as empresas não precisam ter receio de contratá-los. “Acredito que eles acham que a gente vai ficar com a vaga e, em determinado tempo, eles têm medo de a gente pode processar porque tem muita gente no trabalho que faz piadinha da gente. Mas eles não precisam ter medo, a gente só quer trabalhar. A gente só denunciou porque estava uma coisa absurda, era piadinha todos os dias, assim que a gente batia o ponto”, garante Geferson.
Eles também são processados pela WB Componentes por danos morais e também por perdas e danos por contratação de advogado. “A empresa alega que ficou conhecida como homofóbica, que caíram as vendas por causa disso e pedem reembolso, mas nem se vendermos tudo que temos, não temos como pagar o que eles querem”, conclui.
O advogado da empresa, Tabajara Póvoa, informou ao G1 que não tem nada a declarar sobre o processo judicial.